Minha experiência Canadense 2012/2020
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–Tudo começou em 2012, quando meu pai e eu tivemos a idéia de eu ir para o exterior para estudar por pelo menos um ano em uma high school. Claro que meu primeiro pensamento foi: “Eu quero ir para o Canadá”, porque eu sou uma grande fã de Justin Bieber e ele nasceu lá. Eu realmente queria ir para o exterior e ter essa experiência incrível e meus pais estavam de bem com isso. Meu pai realmente queria que eu tivesse uma experiência assim, já que ele nunca teve. Então fomos a Porto Alegre à uma feira onde havia várias agências oferecendo essas experiências e encontramos a CI, uma agência incrível que tinha várias cidades para escolher. Então, meu pai e eu estávamos conversando e decidimos que uma cidade menor seria a melhor opção para mim e também escolhemos o lado mais quente do Canadá, na Colúmbia Britânica! A cidade? Abbotsford! E a partir daquele dia eu não poderia estar mais animada para viajar para o exterior!
–Eu já havia viajado para o exterior com meu pai, mas nunca sozinha! Eu tinha apenas 14 anos e estava assustada, mas também muito animada com a experiência que estava prestes a embarcar. Então, 27 de janeiro de 2013 chegou e a minha família e alguns amigos estavam comigo quando fui ao aeroporto. Eu ainda estava tentando entender o que estava acontecendo e o que ia acontecer comigo quando eu embarcasse naquele avião. Eu não estava desesperada, porque essa situação ainda não estava na minha cabeça. Então eu disse adeus à minha família e fiz o check-in. No momento em que eu não conseguia mais ver minha família, foi o momento em que percebi que estava sozinha e que precisava sobreviver. Tudo isso pode parecer assustador, mas foi uma experiência inesquecível. Vou lhe contar mais sobre isso.
–Então cheguei em Vancouver, BC e havia uma van esperando por mim para me levar à minha host family em Abbotsford. A família que eu ia ficar hospedada por aquele um ano ainda tinha um aluno com eles, então fiquei uma semana com outra família. Tudo era completamente diferente do que eu estava acostumada. Primeiro, as ruas, as casas, as árvores, literalmente tudo, era como se eu estivesse em outro planeta. Eu estava com um pouco de medo, mas então conheci minha host family e eles me receberam de braços abertos e me senti bem. Minha host family era uma mãe e seu filho de 6 anos. Eles eram tão legais comigo e me fizeram sentir em casa desde o momento em que entrei na casa deles.
–O clima estava frio, muito frio, mas eu gosto de frio. Então chegou o primeiro dia de aula e eu estava muito nervosa porque não sabia o que esperar. O ensino médio lá era completamente diferente do que eu estava acostumada. Era como nos filmes em que vemos os armários e todos aqueles adolescentes nos corredores e na lanchonete, tudo era como naqueles filmes de Hollywood. Eu não era a única estudante internacional lá. Havia outros estudantes brasileiros e estudantes de outros países também. Então, comecei a me sentir mais confortável, mas antes de sair do Brasil, disse a mim mesma que faria amigos canadenses ou de outros países porque não queria falar português e queria melhorar meu inglês. Então, eu realmente não me tornei amiga dos outros estudantes brasileiros. Depois de alguns dias, mudei-me para minha host family com a qual eu passaria o ano, e eles eram a melhor família que eu poderia ter pedido. Eu tive muita sorte! Gary (pai), Helen (mãe), Petra (irmã mais velha) e Lexa (irmã mais nova) eram uma família incrível e divertida de conviver, e eles me fizeram sentir muito bem-vinda e como se eu já fosse parte da família.
–A escola ficava a cerca de 10 minutos a pé da casa e eu costumava ir e vir da escola todos os dias. Nos primeiros dias de aula, eu estava me sentindo muito sozinha, porque era muito tímida e não conversava com ninguém. Mas então eu conheci uma garota, Marie, da Alemanha, e ela se tornou a minha melhor amiga! Fico tão feliz que nos conectamos; costumávamos sair todos os dias e fazer tudo juntas. Nós duas estávamos sozinhas no começo porque não conhecíamos ninguém até nos encontrarmos. As aulas não foram difíceis para mim; eu tinha um bom conhecimento de inglês. Eu estudei inglês no Brasil desde os 6 anos então eu conseguia entender quase tudo, mas quando se tratava de conversar com as pessoas, era um pouco desafiador. Mas na aula eu entendia o que os professores estavam dizendo e com o tempo eu estava ficando melhor em ouvir e falar. Após cerca de seis meses, a Marie teve que voltar para casa e eu senti como se estivesse sozinha novamente. Mas então eu conheci Joanna e Paige, minhas duas amigas canadenses e elas me receberam de braços abertos. Eu pensava que os adolescentes canadenses não queriam ser meus amigos porque eu não falava o idioma deles, mas estava errada. Paige é hoje minha melhor amiga e estou tão feliz que nos conhecemos no ensino médio. Também conheci David, que se tornou meu melhor amigo para toda a vida.
–Havia dias em que eu sentia tanta falta da minha família e amigos que doía muito. Mas eu sempre dizia a mim mesma que essa experiência mudaria minha vida para sempre e que os veria novamente em breve. No final daquele ano, eu já estava acostumada com o estilo de vida canadense e meu inglês era muito melhor do que quando cheguei lá. Mas então meu pai e eu tivemos a ideia de terminar o ensino médio no Canadá (o que?????). Isso nunca passou pela minha cabeça, mas fiquei empolgada porque nenhum dos meus amigos tinham feito isso e eu seria a primeira. Sei que dois anos no exterior é muito tempo, mas durante as férias de verão voltei ao Brasil por alguns meses e depois voltei para terminar o ensino médio. Eu terminei o ultimo ano do ensino médio em janeiro e depois voltei para o Brasil. Mas, antes de voltar, decidi que queria começar a universidade no Canadá. Sei que pode parecer loucura, porque no começo o plano era ficar um ano no exterior e depois voltar ao Brasil, mas essa experiência me levou a um lugar que nunca imaginei ser possível.
Então, antes de voltar para o Brasil, comecei a procurar universidades perto de Abbotsford e encontrei a UVic, Universidade de Victoria em Victoria. Victoria é a capital da Colúmbia Britânica e está localizada na ilha de Vancouver, e temos que pegar a balsa de Vancouver para chegar até lá. Decidi que queria estudar na UVic, então minha host sister Lexa e eu fomos a Victoria para visitar a Universidade e conversar com um orientador sobre eu estudar na lá. Voltei ao Brasil em janeiro de 2015 e fiquei lá até o final de agosto (as aulas na UVic começam em setembro).
–O que posso dizer até agora desses dois anos em Abbotsford é que minha vida mudou completamente. Mudou porque tive que começar a ser mais responsável, mais independente e mais consciente de minhas ações. Eu não tinha meus pais lá para me resgatar ou me ajudar a fazer as coisas. Eu tive que começar a aprender como sobreviver por conta própria e como lidar com a sensação de sentir falta deles. Foi muito difícil no começo. Eu me senti sozinha tantas vezes e alguns dias eu pensava que não conseguiria mais ficar lá, mas ao mesmo tempo eu queria experimentar a vida no Canadá, conhecer novas pessoas e conhecer a cultura. Uma coisa que posso dizer é que essa experiência me tornou mais forte, muito mais independente e uma pessoa que vai atrás do que quer. Antes de vir para o Canadá, eu realmente não saia da minha zona de conforto, eu sempre estava com o mesmo grupo de pessoas, sempre na mesma rotina, e então o Canadá me fez uma pessoa diferente. Eu aprendi como sair da minha zona de conforto e conversar com as pessoas, usar o inglês que aprendi e experimentar coisas novas, como viver sem meus pais, ter que lavar minha própria roupa, ter que cozinhar para mim mesma, ter que limpar meu próprio quarto e pequenas coisas que você precisa fazer quando começa a viver por conta própria. É claro que eu tinha minha host family, mas é diferente quando você não mora mais com seus pais. Sua rotina muda; seus pontos de vista mudam; você se torna mais maduro.
–Então fiquei no Brasil por cerca de 7 meses antes de iniciar a UVic. Enquanto eu estava no Brasil, meu pai e eu fizemos uma viagem à Europa, onde encontrei Marie novamente, em Stuttgart, Alemanha. Foi tão divertido vê-la novamente depois de um longo tempo desde que ela deixou o Canadá. Eu estava feliz por estar no Brasil com minha família e amigos e estava gostando de estar lá antes de ter que sair novamente.
–Então chegou a hora. Agosto de 2015. Eu começaria a universidade em breve. Eu nem conseguia acreditar. Quando decidi estudar no ensino médio no Canadá, nunca passou pela minha cabeça que eu iria estudar em uma universidade no Canadá. Mas aqui estava eu. Pronta para deixar todos para trás novamente para alcançar o meu sonho. Desta vez foi mais difícil. Muito mais difícil que eu possa descrever em palavras. Honestamente, não deveria ter sido mais difícil do que quando fui pela primeira vez, mas foi. Acho que foi mais difícil porque passei esses sete meses com minha família e não queria deixá-los novamente. Dizer adeus é uma das coisas mais difíceis para mim. Lembro até hoje que quando embarquei naquele avião para São Paulo senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu estava realmente triste e assustada. E foi a primeira vez que me senti assim. Uma das razões foi porque eu iria morar sozinha, no campus da Universidade. Eu não tinha ninguém.
–Quando cheguei no Canadá, minha amiga Paige e a mãe dela me buscaram e eu passei algum tempo com elas em Abbotsford e depois nos mudamos para Victoria (Paige também se mudou para Victoria para terminar o ensino médio lá, então pelo menos eu tinha ela). Quando me mudei para a minha nova moradia no campus, tudo era novo para mim. Havia muitos estudantes se mudando e eu me mudei com outras três garotas; uma da Índia (Sneh, que ainda hoje é minha grande amiga), uma da China e uma canadense. Eu era muito tímida no começo porque nunca tive que dividir um apartamento com ninguém ou mesmo morei em um apartamento, mas me acostumei. A parte mais difícil foram as aulas. Eu escolhi Economia para ser meu major na UVic. No meu primeiro semestre, fiz um curso de matemática que achei que ia ser de boa, já que eu amava matemática e era um curso do primeiro ano, então não deveria ser tão difícil (foi o que pensei, mas estava errada). Essa aula foi um pesadelo para mim. Foi a aula mais difícil que já fiz na minha vida. Comecei a sentir que eu não pertencia naquele lugar, como se eu não deveria estar na Universidade porque estava reprovando nessa aula. Havia mais de 200 alunos na minha sala de aula e isso me impressionou, porque eu não tinha ideia de que seria assim. Era como vemos nos filmes, aqueles grandes auditórios cheios de estudantes e seus computadores. Eu me senti como um alienígena.
–Meu primeiro semestre na Uvic foi muito difícil, especialmente porque eu reprovei na minha aula de matemática e comecei a pensar que eu não pertencia ali e tudo que eu queria fazer era voltar para o Brasil. Comecei a me isolar de tudo e de todos. Paige estava morando em Victoria, mas eu nem queria vê-la ou sair com ela porque estava muito frustrada comigo mesma e com saudades de casa. Mas então no aniversário dela eu saí com ela e depois começamos a sair novamente. Ela era a única amiga que eu tinha lá. Também esqueci de mencionar que em setembro comecei a trabalhar no Tim Hortons, meu primeiro emprego! Foi uma experiência muito diferente, mas que nunca esquecerei. Nunca experimentei trabalhar na minha vida e essa foi uma experiência agradável. Conheci outras pessoas no trabalho e fiz novos amigos. Eu trabalhava durante os fins de semana e estudava durante a semana.
–Meu segundo semestre na Uvic foi um pouco melhor. E então chegou o verão e eu decidi não fazer aulas, então estava trabalhando em período integral no Tim Hortons. Ai chegou o semestre de inverno, meu segundo ano na UVic. As aulas começaram a ficar um pouco mais desafiadoras e eu comecei a voltar a ficar triste e duvidar de mim mesma porque não estava indo bem em algumas das minhas aulas. Aquele semestre foi o mais difícil. Lembro que havia noites em que eu chorava até dormir porque sentia muita falta da minha família e sentia que eu não aguentaria mais e só queria voltar para eles.
–Essas situações em que me encontrei foram as que me fizeram quem eu sou hoje. Isso me fez mais forte do que eu jamais pensei que poderia ser. Na época, pensei que aquela dor que estava sentindo duraria para sempre, porque não via uma saída. Mas com o tempo aprendi que nada dura para sempre. A dor não dura para sempre e um dia eu ia olhar para trás e ver o quanto cresci com isso.
–Vir a Victoria foi outra experiência incrível. Victoria é completamente diferente de Abbotsford, porque é uma cidade turística. É pequena, mas tem seu charme. Victoria é tão bonita e tem uma paz. Existem muitos lugares para ir e apreciar a vista. No meu segundo ano aqui, tive que me mudar do campus para outro lugar. Em Victoria, é muito fácil encontrar um lugar para alugar, porque muitos estudantes vêm aqui para estudar na UVic. Então, encontrei um lugar para me mudar durante o verão e depois do verão tive que me mudar para outro lugar. Perdi a conta de quantos lugares me mudei. E essa foi outra experiência de aprendizado para mim. Eu tive que arrumar todas as minhas coisas e encontrar maneiras de movê-las para outro lugar e tive que pedir ajuda aos meus amigos.
–Viver sozinha em Victoria me fez tão forte e madura. Eu aprendi a fazer tudo. Isso me fez ser quem sou hoje e sei que, se tivesse ficado no Brasil, não seria tão forte, independente e madura quanto sou hoje. Eu não poderia ter mais orgulho da mulher que me tornei. Sei que ainda tenho muito a aprender e crescer, mas também sei que essa jornada canadense em que iniciei em 2013 me transformou e me fez em quem sou hoje. Não me arrependo de ter vindo para o Canadá.
–Em maio de 2019, pude comprar meu primeiro carro (quando voltei ao Brasil em 2018, tirei minha carteira de motorista)!!! Eu nunca pensei que seria dona de um carro. Fiquei tão feliz quando o comprei. Em junho de 2019, comecei a trabalhar no Empress hotel, que é um dos hotéis mais extravagantes de Victoria. Eu trabalho lá como turndown attendant e eu realmente gosto deste trabalho. Também fiz alguns amigos lá, o que é a melhor parte. E então 2020 chegou: o ano em que eu iria me formar na UVic. Meus pais iriam vir aqui em junho para a cerimônia, mas o mundo entrou em uma epidemia e tudo foi cancelado. Mas eu ainda me formei! Me formei em 13 de maio de 2020 em Bachelor of Science Major em Economia e Minor em Business. E esse foi o dia mais feliz da minha vida. Eu nunca pensei que iria me formar na universidade. Como mencionei anteriormente, os primeiros dois anos na UVic foram os mais difíceis da minha vida. Mas eu consegui e estou muito orgulhosa de mim mesma. Todas essas conquistas aconteceram porque me tornei uma pessoa muito positiva e batalhadora, que não desiste tão facilmente de algo que realmente quero.
–Enquanto escrevo isso (7 de junho de 2020), o que posso dizer é: não me arrependo de ter vindo ao Canadá e ter vivido tudo o que vivi. Foi muito desafiador e assustador, mas todos esses sentimentos que senti, toda a dor que passei, todas as pessoas que conheci, todas as coisas que vi, tudo, fizeram de mim a pessoa que sou hoje e eu estou muito feliz e orgulhosa de mim mesmo. Essa “experiência canadense” mudou minha vida para melhor, e eu tenho que agradecer ao meu pai por esta incrível oportunidade que estou vivendo hoje e agradecer à minha mãe e a Dilce por estarem comigo (virtualmente) em todas as etapas do meu caminho.
–Eu encorajo você a embarcar em uma experiência como esta, se puder. Você não vai se arrepender de nada. Se você está pensando em estudar no exterior, vá pelo menos por um ano. Um ano mudará sua vida completamente e você aprenderá coisas que nunca aprenderia se apenas ficasse na sua zona de conforto.
–Explore o mundo e viva intensamente a vida agora, porque mais tarde pode ser tarde demais.
Lauren Hans
Bachelor of Science
UVIC University of Victoria B.C.
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